SP: metrô, ônibus, bicicleta, cicloelétrico….

Prefeitura de São Paulo anuncia redução de mortes no trânsito. Ao mesmo tempo, promove licitação do sistema de ônibus. Governo do Estado não constrói metrô. Baterias exigem eletricidade, e assim Belo Monte devastará o Xingu.

Av. São Joaquim. %0 km/h, ciclofaixa, e grade para opedestre ter que andar mais e nunca atravessar "onde não deve". Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas (18/09/2015)

Av. São Joaquim. %0 km/h, ciclofaixa, e grade para o pedestre ter que andar mais e nunca atravessar “onde não deve”. Foto: Oswaldo Corneti / Fotos Públicas (18/09/2015)

Hoje, inobstante minhas dores no ombro, peguei minha bicicleta cedo e fui à reunião ordinária do CMTT. Sou conselheiro, pelas bicicletas, e tenho o encargo então. Cargo é encargo, mesmo que seja cargo exercício a título gratuito, sem remuneração, como é meu caso.

O Secretário de Transportes e sua equipe fizeram uma apresentação sobre a diminuição das mortes no trânsito em São Paulo. Sim, os números são consideráveis.  Vale à pena você clicar nesse link aqui e ver os dados do Programa de Proteção à Vida.

A se notar a fala do Tadeu, quando citou que, de fato, entre os ciclistas o numero de mortes é pequeno e não nos deixamos nos tornar mera estatística, sempre nomeando os mortos, nas ghost-bikes. Mas ontem, 28 de outubro,mais uma ghost-bike foi instalada em São Paulo: no cruzamento entre Av Cidade Jardim e Faria Lima, onde Matheus Mello foi atropelado por um caminhão que passou no semáforo vermelho, e por mais de uma semana ficou  em coma.

Mas, inobstante nossas ghost-bikes, os números não mentem: não h’amodal mais seguro que o uso da bicicleta, nessa cidade. Nem andar a pé é tão seguro. Mas nós, ciclistas, trabalhamos com visão zero: nenhuma morte é admissível.

Minha fala como conselheiro foi curta: citei não apenas a entrevista do Prefeito Fernando Haddad à Deutsche Welle, onde afirma que é preciso seguir o Plano Nacional de Mobilidade e sua hierarquia de prioridades (pedestre, ciclista,  usuário de transporte público, nessa ordem, com prioridade sobre os outros modais), mas citei também a antiga fala de Jilmar Tatto, que certa vez afirmou: “a experiência mostra que erramos toda vez que privilegiamos o carro”, e então cutuquei: Seria boma Secretaria de Transportes chamar-se Secretaria de Mobilidade, e é preciso que essas prioridades cheguem aos detalhes: o traçado da ciclofaixa da Av Engenheiro Álvares, como outras, ainda privilegia o carro, e no semáforo do cruzamento da Avenida Consolação com Antônia de Queiroz, gradis, e a temporização impedem que o pedestre atravesse a Av Consolação de uma vez: tem que parar no canteiro central e esperar a próxima vez que os carros tiverem que parar.

Sim, muito é feito, mas é preciso ir além. pois, se a queda nas mortes no trânsito já tem o efeito de liberar 60 leitos no no sistema de saúde, economizando 6 milhões em tratamentos e 60 milhões em custos sociais, como se diz nessa reportagem da Carta Capital, temos que cuidar para que o genocídio de pedestres não continue, como reforça nesse texto Meli Malatesta. Aliás, analisando muito bem os dados dos atropelamentos, Meli Malatesta demonstra que a prevalência dos atropelamentos fatais nos finais de semana demonstra o efeito da velocidade: ruas mais livres, corre-se mais, mata-se mais.

Mas é preciso avançar na desmotorização. Não se trata apenas de promover um pedestrianismo seguro, ou que se promova o uso da bicicleta, mas também se trata dos transportes públicos melhores. É aí que a porca troce o rabo.

São Paulo, tem uma taxa de construção de metrô das mais lentas do mundo. O Metro de São Paulo é estadual. Tanto a Folha de São Paulo, quanto O Estado de São Paulo, apontam a lentidão e comparam com outras cidades ao redor do mundo, mostrando a inépcia do Governo do Estado de São Paulo nesse quesito. Não tenha medo, clique nos links nos nomes dos dois jornais e leia. Conclua por si.

É aí que mora o problema. Ônibus é modo complementar e, em São Paulo, exerce um papel cumpre um papel além de sua natureza, conforme Jilmar Tatto afirmou nesse texto.

E se você leu o texto desse último link, sabe que São Paulo está em processo licitatório do sistema de ônibus. É um avanço essa licitação em alguns pontos, como a mudança no fator de remuneração das empresas que leve em conta também a pontualidade e a qualidade dos serviços. E claro, outros detalhes, como o usuário saber que horas seu ônibus chega por aplicativo, wi-fi e outros que tais também são importantes.

Mas…. na licitação não fica claro que em todo terminal deve haver um bicicletário de fácil e segura utilização, não um puxadinho num lugar esquisito.

E também, não há um reforço na necessidade de se baixar seriamente as emissões de carbono dos ônibus. Diesel? Deve-se trabalhar com a eliminação desse combustível. Há uma série de formas de se fazer isso, bem como se utilizar biodiesel de diversos matizes. Mas o ideal seria ainda que a frota fosse toda elétrica. Não apenas com trólebus, mas também com ônibus com baterias.

Baterias, eletricidade! Sim, veículos elétricos tem um custo de “combustível” consumido por quilômetro rodado baixíssimo, e emissão zero no seu uso. Emissões há na produção dessa energia elétrica. Mas usar combustível para produzir energia elétrica e então usar essa energia elétrica em um veículo ainda é mais econômico, inclusive do ponto de vista ambiental, do que usar o combustível num motor a explosão que mova o veículo. O elétrico consome, em média, 1/3 do que consome o motorizado à explosão.  E o melhor sistema seria o chamado “diesel-elétrico“, que nos ônibus, se aplica, produz o ônibus elétrico-híbrido.

(parentesis: fosse eu um carrólatra, pensaria facilmente na conversão de algum carro à eletricidade, para rodar na cidade. aliás, montaria uma réplica de spyder 550 elétrica. existe uma série de vantagens num carrinho elétrico para as cidades em relação aos carros com motores à explosão. mas ainda prefiro autonomia das minhas pernas, e sigo na minha bicicleta)

É. São Paulo avança, mas ainda falta muito pra ficar mais ou menos.  Mas não só São Paulo, o Brasil inteiro. Às vezes a passos largos, às vezes a passos de ébrio.

Na prática há um embate entre predadores e e conservacionistas. Predadores preocupam-se apenas com seu estômago. Conservacionistas, com os ambientes, com o equilíbrio.

Esse embate é de pessoas e ideias.  E nos partidos políticos há ambas as posições, ambas as ideias, ambos os grupos de pessoas. Há os que pregam um certo desenvolvimento a qualquer custo, os lucros a qualquer custo, e os que entendem que não, é preciso uma harmonia entre as coisas do mundo, um equilíbrio. Esses últimos, no final, estão sempre certos, pois a natureza impõe sim o fim dos recursos.

O clima está mudando, mas as pessoas só pensam na Lava-Jato. Vivemos, na prática, como sapos na fervura: sapos jogados em água quente pulam fora. Mas se a água esquentar progressivamente, sapos vão ficando… e não pulam, não sobrevivem, são cozidos.

É…  Enquanto isso, nas TVs, sucedem-se comerciais de carros. E bobos alienam parte considerável de suas rendas na copra dessas latas… Sapos na fervura. Sapos na fervura.

Mas há saídas, todavia apenas depois de se mudar a visão sobre o mundo. Há como se chegar ao bem-viver, mas o caminho é árduo. E, como dizem os beduínos, a formiga tem passos curtos mas atravessa a montanha. Caminhos há. Comece-se mudando a visão sobre o mundo, ou melhor, olhando o mundo que existe além do próprio umbigo. Comece lendo esse bom texto da Verena Glass.

E que tal experimentar a bicicleta como meio de transporte? É uma boa forma de abrir os olhos e ver a realidade do mundo. Tente. O bem-viver passa por aí.

E bicicleta sem bateria, tá? Não alimente a devastação em Belo Monte. Não justifique essa devastação. Ah, Belo Monte!, Verena já escrevia há quase dez anos sobre seus problemas! 

Pois como dizia o Paulo R², o Voodoo, “se tenho pernas, por que usar a bunda par ame locomover?” – que os motores existam, mas só sejam usados por quem precisa de fato. o bem-viver passa por aí. Mas só pra quem tem olhos de ver.

 

2 Respostas para “SP: metrô, ônibus, bicicleta, cicloelétrico….

  1. É impressionante a quantidade e a qualidade do que se aprende ao ler suas postagens!
    Muito Obrigado!

  2. Compartilho da mesma opinião. Veículos elétricos destroem o meio ambiente três vezes. Na produção da eletricidade, na extração do lítio e no descarte indevido das baterias. Sempre que alguém falar que ecologicamente correto por que usa um veiculo elétrico, lembra elas destas 3 formas de destruição. Parabéns pelo post

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