Mauro Ribeiro vence no Tour de France: 30 anos!

Pouquíssimos ciclistas brasileiros tiveram a oportunidade de pedalar no Tour de France. Um único brasileiro no seleto grupo dos que venceram uma etapa da competição ciclística mais importante do mundo.

Usando uma bicicleta Libéria, com tubos de aço 4130, e alavancas de quadro, Mauro Ribeiro vence a 9ª etapa do Tour de France de 1991. Note que os demais usam bicicletas com STIs.

Era o ano de 1991. Um jovem prodígio brasileiro no ciclismo amador e depois profissional estava participando do Tour de France. Poder largar num TDF já é um privilégio, pois é preciso ser ciclista de uma das melhores equipes do mundo, pois não pedala no TDF quem quer, mas quem pode.

Mauro Ribeiro era um “domestique”, um gregário, na equipe R.M.O. O capitão da equipe era Charles Mottet. Mas na etapa anterior havia tomado muito tempo na classificação geral e assim estava fora da disputa da camisa amarela. O que o fez liberar seus gregários.

Mauro Ribeiro estava na 9ª etapa daquele Tour de France numa fuga, fuga essa com outros ciclistas muito fortes. A etapa ocorreu entre Alençon e Rennes, num percurso relativamente plano de 161km, que, pela lógica, ocorreria com a fuga sendo engolida pelo pelotão ao final, e os fortes sprinters disputando a chegada.

Mas o pelotão não pegou a forte e grande fuga. Fuga essa que chegou compacta no último quilômetro da prova. E em alta velocidade. A cerca de 600m da chegada, Mauro Ribeiro atacou. Pedalou forte. Descolou-se da fuga, assumiu a dianteira, jogou todo o seu gás nas pedaladas. Olhou para trás duas vezes ainda, vendo o resto da fuga chegando pra alcançá-lo, mas por cerca de uma roda de vantagem ganhou a etapa!

O segundo lugar foi de ninguém mais ninguém menos que Laurent Jalabert, que nos anos seguintes ganharia um TDF, ganharia duas vezes a camisa verde no TDF, ganharia por duas vezes a camisa de bolas vermelhas do TDF, ganharia a camisa ciclamino de um Giro d´Italia, ganharia uma camisa amarela da Vuelta de España, mais quatro vezes a classificação por pontos da Vuelta, seria Campeão Mundial de Contra-Relógio, e venceria várias etapas do TDF, do Giro, da Vuelta, entre outras diversas vitórias em provas por etapas e clássicas.

Maurô Ribeirô (como os franceses pronunciam seu nome) demorou a ver a ficha cair. No dia seguinte, Greg LeMond, que estava com a camisa amarela, deu-lhe boas vindas ao seleto grupo dos que venciam etapas nas três grandes voltas. A vitória de Mauro Ribeiro saiu na capa de cerca de 150 jornais ao redor do mundo, e marca o início da globalização do ciclismo de estrada profissional, antes totalmente concentrado na Europa, não apenas do ponto de vista da realização de provas, mas também da participação de ciclistas.

15 de julho de 1991: Greg LeMond, então com a camisa de líder do TDF, cumprimenta Mauro Ribeiro pela vitória no dia anterior

Hoje nós temos até uma equipe africana participando das grandes voltas. Temos ciclistas de ponta oriundos de países que não possuem tradição no ciclismo, como Eslovênia, e ou estão muito distantes da Europa, como Colômbia e Equador, cujos ciclistas já venceram as grandes voltas.

Há 30 anos as bicicletas no mais das vezes eram de cromo-molibdênio, às vezes de tubos de alumínio finos, os quadros de alumínio eram cachimbados e não soldados, mas colados, e começavam a ser utilizados os primeiros trocadores integrados com manetes de freio (Shimano lançou os STIs em 1990, e a Campagnolo lançou os Ergopowers apenas em 1992). Os cassetes mal haviam pulado de 7 para 8 velocidades, as bicicletas de estrada mal haviam transitado de 126mm para 130mm de espaçamento das gancheiras para o cubo traseiro.

De lá para cá muita coisa mudou, mas a velocidade dos ciclistas em geral não. As bicicletas não pesam mais de 9 a 10kg, mas algumas brigam e usam pesinhos para atingir o peso mínimo legal de 6,8 kg. Não há mais quadros de ligas metálicas (cromo-molibdênio, alumínio e mesmo titânio), mas os compostos de fibra de carbono atingiram hegemonia completa. O treino mudou, pois com o conhecimento que temos agora, e os medidores de desempenho, o aperfeiçoamento da alimentação e dos treinos fizeram rarear os constantes casos de sobre-treino, overtraining, tão comuns há décadas atrás. Os capacetes não são mais de tiras de couro, mas leves capacetes muito mais eficientes.

Mauro Ribeiro ainda ganharia no mesmo ano uma etapa da então Route du Sud, atual Route d´Occitanie. E voltaria ao Brasil, onde seria técnico da Seleção Brasileira de Ciclismo de Estrada, e abriu uma empresa, Mauro Ribeiro Sports, dedicada à produção de vestimenta para ciclistas, com produtos de alta qualidade.

Mas Mauro Ribeiro entraria para a história do ciclismo mundial, não apenas por vencer uma etapa do Tour de France qualquer, mas a etapa de um 14 de julho, data nacional francesa, quando as etapas possuem um desenho especial e são vistas e acompanhadas por uma gigantesca multidão.

Assista ao videozinho curto abaixo sobre o finalzinho da dramática vitória de Maurô Ribeirô, le premier brésilien lauréat d’étape en Tour de France!

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