aero, e turbo!

imagine uma bicicleta que permite você sprintar com força sem se preocupar com equilíbrio ou sem perceber o quadro flexionar. que você tenha a sensação de que toda a força que imprimiu no pedal chegou à roda.

uma geometria singular!

que você acelera naquela saída de farol e vai colocando marchas mais pesadas rapidamente e a bicicleta vai acelerando e, quando você vêm você está a mais de 30 por hora em menos de 200 metros.

imagine uma bicicleta que faça você não mais temer subidas íngremes. você anda por são paulo com pedivela 52-39 e não desvia o caminho de volta pra casa ao perceber que pegou, ali perto do parque do ibirapuera, aquela rua que tem uma subida de um quarteirão que muita gente chama de parede, mas no mapa é a rua manuel da nóbrega. você chega na base da subida, engata 39×27 e sobe pedalando em pé, e sente que cada pedalada é transferida à roda. você sobe, resfolega mas sobe, e rápido.

imagine uma bicicleta que numa descida como da avenida sumaré você percebe que está numa posição bem aerodinâmica, mas fácil de pedalar, e você gira que nem um doido ao perceber que 52×12 se tornou uma marcha curta demais, e você está passando os carros, que respeitam o limite do radar. e reza praquele semáforo depois do posto de gasolina estar aberto, pois não terá espaço para freiar.

imagine uma bicicleta que dá a real leitura do asfalto. você sente qualquer irregularidade do asfalto. ela é desconfortável, pois você está bem em cima da roda traseira. mas é tão fácil pedalar em pé nela… e ela acelera tanto, anda tão bem que você releva esse detalhe. você fica folgado. não escolhe mais os percursos por conta do relevo, mas pela qualidade do asfalto. você pedala com fome e fraco, pois chegará rápido em casa, antes da chuva, e naquela subidinha chata perto da sua casa você sobe pedalando sem problemas.

dois amigos hoje deram uma voltinha nela e seus comentários resumiram tudo:

labeda: ela é dura, né? curtinha, parece que a gente vai sair pela frente.

shadow: muito rápida, né? ela acelera…..

pronto, essa é a descrição do que seja andar numa khs aero turbo. o céu e o inferno. o céu ao perceber que parece que você se tornou um ciclista muito melhor da noite pro dia. o inferno de sentir cada buraco, cada irregularidade do piso. você sente a diferença de altura do asfalto pintado em relação ao asfalto não pintado. passar sobre uma faixa de pedestres é como passar sobre uma sucessão de lombadas. e claro, você xinga a administração pública e sua total incapacidade de manter o asfalto liso diversas vezes por km pedalado.

decididamente não é uma bicicleta para fazer longas distâncias. já para fazer o atravecity ou o desafio intermodal….hehe

montei a minha com um mix de peças antigas, dura-ace (sti’s, corrente e cassete, d.a. 7700, e pedivela d.a. 7410, com mov. centra com eixo de titânio) e ultegra (freios e câmbios, todos 6600), e rodas simples, com cubos tiagra e aros vzan flyer, com raios em inox. os pedais são de mtb, pois sapatilhas de mtb são mais adequadas ao andar. a bicicleta está com 9,8 kg, razoável com as peças usadas, ainda mais que o garfo pesa bastante, sendo de cromo-molibdênio e não fibra de carbono. não chama a atenção da ladroagem, usando mesa headset, standard. já me perguntaram como modifiquei essa “caloi 10”, e falei que foi um soldador bem habilidoso…

o quadro é em aço cromo-molibdênio, aço liga 4130 com tratamento térmico:  true temper AVR, dupla espessura nos tubos principais do quadro. esse quadro vale alguns parágrafos. como era o padrão da época, a caixa de direção é standard e a caixa do movimento central tem padrão inglês de rosca. os únicos tubos que são retos e com espessura única são o tubo da caixa de direção e os tubos superiores do triângulo traseiro, os seat stays. que, ao contrário do padrão da época, não foram soldados ao lado do tubo vertical do quadro, o seat tube, mas atrás dele. no tubo superior direito há um pequeno pino para encaixar a corrente quando tiramos a roda traseira.

note os tubos inferiores do triângulo traseiro curvos e os tubos superiores soldados atrás do tubo vertical do quadro

os tubos inferiores do triângulo traseiro são curvos e finos. o tubo direito deveria necessariamente ser curvo para poder se utilizar pedivela com coroas grandes sem que essas pegassem no quadro. o esquerdo acompanha o formato. assim, o espaço para o pneu é pequeno. mal deve caber pneu de 25mm. estou usando pneu de 23mm, e o espaço é apertado.

o pequeno pino no seat stay direito para pendurar a corrente quando se tira a roda.

a traseira é muito curta. 37 cms, do eixo da pedivela ao eixo da roda traseira. a mesma distância que há na minha dahon curve, de aro 16! não à toa ela é desconfortável para os desavisados.  pedala-se quase em cima do eixo da roda traseira.

os três tubos principais do quadro tem cada um suas particularidades. o tubo inferior é estreito olhando-se de frente, e largo olhando-se de lado. tem formato de gota. o tubo superior tem passagem interna do cabo de freio traseiro, e é achatado no ponto onde é soldado ao tubo vertical do quadro. isso aumenta a rigidez lateral do quadro nesse ponto. o tubo vertical sobe além do tubo horizontal uns 2 cms. tem o suporte para instalação do câmbio traseiro recuado, pois é curvo para dentro na área próxima à roda, assim como possui uma guia para a passagem do cabo do câmbio dianteiro sem pegar na roda traseira.

o tubo vertical acompanhando a roda

todas essas características dão à bicicleta o característico desempenho que descrevi acima. não exagerei. a bicicleta é de fato radical na sua geometria. sobe muito bem (muito melhor que bicicletas bem mais leves que ela), sprinta que é uma beleza, ficamos numa posição bem aerodinâmica para uma road bike, e sim, é desconfortável em terreno que não seja absolutamente liso. e essa não é uma opinião exclusivamente minha. leia esse excelente artigo publicado em 1996 na bicyclist magazine onde o autor diz o mesmo que descrevi. uma excelente bicicleta de critério, uma excelente bicicleta de contra-relógio, à sua época, claro.

o cabo do câmbio dianteiro, na diagonal, sando da guia do quadro

sim, ela acelera, ela escala, ela corre!

14 Respostas para “aero, e turbo!

  1. Eu tive uma, que vendi para um amigo e em seguida ela foi roubada, uma pena, a bike estava zerada, linda…

    Segue a foto dela no link abaixo…

    http://multiply.com/mu/ishida/image/41/photos/2/orig/100-0016_IMG.JPG/photo-100-0016_IMG.JPG.jpg?et=6d3bXZqfD4sbL9m9TSspjw&nmid=69776

  2. 92 se não me engano… Quadro 52

  3. nossa gostaria de montar uma dessa, aonde vc arranjou o quadro? Essas rodas empenam rápido na buraqueira?

    • comprei de um colega do fórum, há uns 3 anos, e fui juntando peças, sem pressa. essa roda não empena tão fácil não. é roda de 32 raios, cruzados. tende a flexionar, mas retomar a forma. na bicicletaria do sheldon brown havia rodas semelhantes à venda. e não são muito pesadas, levando-se em conta que são para andar na rua em são paulo. é bicicleta para uso diário, e não para expor ou fazer provas especiais. até pq ela não permite que cheguemos a longas distâncias sem dores nas costas.

  4. legal, eu queria uma dessa para ir pro trabalho. 16km no total ida e volta. Eu vou todo dia mesmo, faça chuva faça sol. Eu uso uma MTB que já está ficando ruinzinha, como nunca andei de speed meu medo é tomar chã em pista molhada, ainda mais agora que está rolando esses temporais em SP. MAis uma coisa que notei é, não tem suporte pra bagajeiro, será que tem como colocar sem furar o quadro? No final minha duvida é, vale a pena usar ela ao invés de uma MTB? HA eu pego algumas vias rápidas quando não tem jeito….

    • olha, se nunca andou numa speed, eu não recomendo uma khs aero turbo. essa é a mais desconfortável que já andei na vida, mais desconfortável que muita cannondale, sendo que as cannondales são conhecidas por serem rígidas. existem outras speeds mais confortáveis. procure uma caloi, por exemplo. há calois de muito boa qualidade. para ir e voltar ao trabalho é bom uma bicicleta com peças duráveis, e que não chame a atenção. uma caloi usada poe ser uma excelente opção. mas são raras as speeds com encaixes para bagageiros. raras mesmo.

      uma outra opção é dar uma turbinada na sua mtb: pneus finos, pedivela 48,36,26.

  5. Tenho uma KHS Aeroturbo 96 desde 0km. Ela realmente é incrivel na aceleração e qualquer detalhe no asfalto é transmitido sem piedade. Gosto tanto que nunca quis me desfazer dela, mas comprei uma Cannondale Synapse e coloquei a KHS a venda. Fotos delas em http://www.bomnegocio.com/rio_de_janeiro/grande_rio_de_janeiro/khs_aeroturbo_speed_bike_estrada_em_perfeito_estad_6360193.htm?ca=21_s&last=1

  6. E qual é o tamanho do seu quadro Fábio ?

  7. muito linda Odir!!!!!!!!!! eu não conhecia e khs, linda mesmo! 🙂

  8. mariocomputadores@hotmail.com

    qual o peso desse quadro amigo ?

    • não pesei individualmente. deve pesar cerca de 1,8 kg. a bike completa tá com cerca de 9.200 kg, sem usar peças absolutamente top atuais, mas peças mais antigas, top à época, mas mais pesadas que as atuais. o desempenho em subidas não se dá pelo peso leve, mas pela eficiência, pelo aproveitamento da força impressa ao pedal. ela nunca foi considerada uma bike leve, mesmo à poca, em 1995 ou 1996. mas sempre foi tida como excelente em subidas, e em sprints, e péssima no quesito conforto.

  9. Boa noite amigo….comprei um quadro KHS AERO, não sei a medida do canote, vc pode meenformar?

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