bicicletada 10 anos: ação coletiva

mas nem só de ação direta (como as ações descritas no post anterior) vive a bicicletada.

café da manhã oferecido pela ciclocidade, a ciclistas na avenida paulista, no dia mundial sem carro.

em são paulo, as redes de comunicação permitiram o surgimento de diversas ações mais ou menos constantes que pediram algum grau de organização ou institucionalização. assim, surgiram diversos coletivos e duas associações formalizadas.

os coletivos são informais e organizados para ações relativamente focadas. são vários, são fluidos, e muitas pessoas transitam por eles, fazem parte de muitos, com maior ou menor participação. listo alguns:

pedalinas: coletivo de mulheres que pedalam, pra discutir assuntos relacionados ao pedal feminino. discutem temas como assédio no trânsito ou mesmo mecânica de manutenção. organizam passeios entre elas. sem a presença de namorados e afins, justamente para fomentar a independência feminina.

bike-anjos: grupo de voluntários que se propõem a educar ciclistas novatos, ensinando-os a se portar no trânsito de forma segura.

bicicletas coletivas: recebem bicicletas doadas, reformam-nas e as dispõem para uso temporário gratuito a pessoas. no caso de bicicletas infantis, são reformadas e entregues a crianças de baixa renda, em favelas, ocupações e etc.

mão-na-roda: oficina comunitária onde todos podem mexer nas próprias bicicletas, muitas vezes recebendo o auxílio de outros ciclistas mais experientes. ótimo local para aprendizado.

ciclo-liga: coletivo de pessoas, jornalistas, advogados, urbanistas,artistas,  todos ciclistas, que, através de pressão na mídia, e mesmo direta, procura forçar a municipalidade a cumprir a legislação existente que protege o ciclista e incentiva o uso da bicicleta.

juliana ingrid dias, bióloga, ciclista, plantava árvores pela cidade com o pedal verde. teve sua vida tolhida pela imprudência e indiferença alheia..

pedal verde: grupo de ciclistas que plantam árvores pela cidade, aumentando a vegetação, a captação de carbono expelido pelos carros – e não pelas bicicletas.

isto para citar apenas alguns dos grupos que emergiram da bicicletada. lembrando que é comum uma mesma pessoa participar de vários coletivos, havendo ações em comum: bicicletas coletivas sendo consertadas em alguma sessão da mão-na-roda, por exemplo.

afora esses (e outros grupos), emergiram da bicicletada duas associações: Instituto CicloBR e Associação Ciclocidade. essas duas associações comumente agem em conjunto, e cumprem a função de serem think tanks, verdadeiras usinas de ideias. promovem desde ações de levantamento de dados (por exemplo, contagem de ciclistas que passam num dia na ponte joão dias), até a implementação de políticas (a implantação da rota ciclo-turística márcia prado, é um outro exemplo.

márcia prado. arquiteta. ciclista. idealizadora da rota ciclo-turística que recebeu seu nome. visava criar movimento turístico no grajaú, bairro da zona sul de são paulo. morta pela negligência alheia.

essa multiplicidade de grupos e entidades permite uma agilidade fenomenal na ação coletiva. sempre há alguém participando de algo, e, com as redes de comunicação funcionando a pleno vapor, não é de estranhar que os de fora tenham a sensação de onipresença do ciclo-ativismo paulistano. e é assim mesmo que acontece. para ilustrar essa percepção, uma historinha da evelyn e do andré leme, ocorrida ontem:

Hoje cedo, vindo para o trabalho, encontrei o André Leme acidentado na Rebouças =( Ele atropelou um carro com tudo na descida da Avenida. O vidro de trás do carro e a lanterna se estraçalharam!!!! Mas ainda bem que ele estava bem! Cortou a orelha e ia ter que levar uns belos pontos) e machucou a coxa esquerda, sem fraturas. 

Segui com ele na ambulância até o Hospital das Clínicas e fiquei por lá até o irmão dele chegar. 

Mas, como ciclista sabe como ninguém transformar qualquer fatalidade em boas histórias para contar na mesa do boteco, o melhor de toda essa história foi o bombeiro me perguntar “você estava com ele?”, e eu disse “não, mas somos amigos, já nos conhecíamos por causa da bike”. E o bombeiro falou: “mas vocês ciclistas estão pior que motoqueiro! Parecem uma gangue, todos se conhecem!!!!!”.

Viva a gangue ciclística (principalmente aquela que atropela carros! A-D-O-R-O!!!!!).

mas claro que todos nos conhecemos. e se não conhecemos alguém, conhecemos outra pessoa que conhece aquele alguém. pois além de todos esses grupos militantes, há também os grupos não militantes, os passeios noturnos e de finais de semana, que partilham de algumas ações eventualmente, trocam informações e também se beneficiam de ações. pois se questões de gênero, raça e orientação sexual não são derivadas de escolhas, ser ciclista é. não se escolhe ser mulher, negro, gay, portador de necessidades especiais. mas ser ciclista é escolha, e quanto a escolhas, não há neutralidade.

ser ciclista implica somente em se predispor a usar a bicicleta. então, qualquer um ao seu lado é um ciclista em potencial. somos milhares diariamente pela cidade, milhões mensalmente pela cidade. e em alguns anos seremos a maioria e então, a cidade de são paulo – e as outras cidades que fizerem o mesmo! – serão mais humanas. pois cidades não são para carros, são para pessoas.

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em tempo, em outras cidades do brasil há ações semelhantes, talvez sem a mesma imensa quantidade de grupos que tem são paulo, em razão do próprio tamanho de são paulo. e mesmo são paulo tem outros grupos. eu não consigo mapear todos. e em todos eles uma coisa é certa: a presença feminina, com seu efeito pacificador. mas isso é assunto para outro post.

14 Respostas para “bicicletada 10 anos: ação coletiva

  1. Presença feminina: lembro no tempo em que RPG só jogavam os homens, ou brucutus ou nerds, e mulheres eram raras e feias.

    Salvador pioneiramente tinha muita mulher jogadora. Bonita. que gostava da night! E que jogavam por vontade própria, e não pelo namorado (aliás, minhas ex-namorada já jogava antes de mim: ruiva, 1,74, bailarinha desde que nasceu – das fêmeas mais belas, elegantes, e sexies sobre as quais já pus as vistas). E narravam, mestravam, e muitíssimo bem!

    A Massa Crítica de Salvador, contaminada por isso, mas também pelo matriarcado yorubá (Mãe Senhora, Madre Joana Angélica, Maria Felipa, etc.), e pela pipoca de carnaval, tem mulher pacaralho. Lindas e que já pedalavam antes de namorar pedalantes. Tem viado (ó eu aqui pra provar). Tem um casal de cada bicho nessa arca de noé, como diria meu pai.

  2. Reblogged this on …::Viva & Deixe Viver::…e comentado:
    Muito legal o projeto.

  3. Mulher bonita só se for em RPG mesmo… Pq cicloativista é tudo canhão. Na tal pedalada pelada fui ver se tinha um peitinho ou outro que valia a pena, mas só bucha!

    • bom, se vc foi na bicicletada pelada só pra admirar corpos nus sem enteder o que estava sendo feito ali… bom, então não há o que comentar.

      • em Salvador não tem, nem precisa, de “pedalada pelada”. Quase todo mundo pedala semi-nu mesmo – eu venho pro trabalho sem camisa; fim de semana vou pro Porto da Barra só de sunga (aliás, o morador da Barra Avenida transita pelo bairro normalmente descalço e só de sunga mesmo, a pé).

        E eu não iria a uma pedalada-pelada se não fosse para admirar os corpos nus. Eu sou libertino, no sentido de Karl Krauss – isto é: “alguém que ainda tem o espírito, onde todos os outros só têm um corpo”.

    • “cicloativista” é canhão, chato, e inoperante.

      Felizmente, em Salvador não se encontra nenhum “cicloativista”.

      Que Sampa tenha a má fama de ter muita sapatão pedalando, paciência. Não que Salvador não tenha, mas não é a regra. Idem para o Rio de Janeiro, ao que me consta.

      (ah, o bairrismo paulistano, esse provincianismo metido a cosmpolita…)

    • Ufa! Que bom que vocês, Douglas e e Lucas Jerzy Portela, pensam assim… Aí vocês ficam bem longe da minha mulher que é cicloativista e gata pra caralho!!! kkkkkkk

      Parabéns pela ignorância e preconceitos…

      Beijunda!

      • não é “eu” pensar assim. Ser contra ativismos em geral e ao cicloativismo em específico é uma postura política desde os anos 1990, e tem raizes profundas em Henri Lefebvre (que em O Direito a Cidade diz que o proletariado deve buscar, na cidade, o direito a festa – e não o direito ao trabalho ou ao protesto politico).

        sobre isso, duas recomendações de leitura:

        – Abandone O Ativismo, do Andrew X, ReclaimTheStreets, Londres, 1995

        – post no blog da Transporte Ativo, “Pelo fim do cicloativismo”.

        ativismos reproduzem a sintaxe daquilo que buscam combater semanticamente. Duplo erro. Fourier já sabia.

  4. Mas todo mundo vive falando que pedalar deixa o corpo bonito e tals como é que as mina q tavam lá tavam só no bagaço?

    • Desde que Kant é Kant, o belo não é o apetecível e vice-versa. E desde que Sade é Sade, que subverte Kant por superação, o feio apetece mais…

    • Cara, que pedalar desenvolve os músculos e geralmente emagrece, deixando o corpo com uma forma que normalmente se convenciona como bonito, isso é fato e não tem o que questionar.
      Agora, se vc quer discutir gostos, padrões estéticos, ou os fatores sociológicos envolvidos no fato de você não ter visto meninas que considerou bonitas na pedalada é até possível, mas acredito que ninguém aqui, tirando talvez o Lucas, estará interessado em participar da discussão.

  5. Não sou o moderador mas, Douglas, acho que esse blog não tem muito a ver com vc!

  6. Quem tá acostumado só com revista masculina de mulher pelada sempre vai estranhar a realidade. Qualquer realidade.

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