5 anos da praça do ciclista – oficializada

a coisa era assim. final dos anos 90, começo dos 2000. a gente já marcava ali o ponto de encontro pra uma série de pedais.

apareça lá!

dia dia, de noite, não importava. paulista X consolação era um ponto de fácil acesso. todo mundo conhecia. até pq ali na frente ficava a livraria belas artes, pra onde corríamos a qq hora num final de semana pra achar um livro. sim, ela ficava aberta todos os dias, domingos, feriados… lembro dum final de 25 de dezembro, depois do almoço em família e pra onde corri? pra livraria belas artes. tinha um sebo no prédio esquina. o cinema belas artes ali perto. do outro lado da consolação dava seus últimos suspiros o riviera, que estava aberto desde o final dos anos 40 e eu frequentava nos tempos de faculdade. mas não só eu.

então o cruzamento da paulista com a consolação, ainda mais que tinha calçada larga, era um ponto lógico para agrupar ciclistas. vínhamos de todos os lados, conhecíamos o local e até todo mundo chegar…

dali saíam pedais pela cidade quando tinha algum colega de outra cidade visitando-nos.  descíamos ao centro, aos jardins, podíamos ir pra zona sul, zona leste e claro, muitos dos pedais que iam a santos, mas não pela estrada de manutenção da imigrantes, que hoje faz parte da rota márcia prado, mas pela estrada velha de santos.. afinal entre nós havia muito speedeiro da velha guarda, e a estrada velha de santos, asfaltada, sem pegarmos barro da paulista até santos, era o caminho que nos parecia lógico. tinha que driblar o guarda, as daí carregávamos as bikes na calçada do lorena.

então quando decidimos dar um tom mais politizado às “caminhadas de bicicleta”, às “bicicletadas” divertidas que já fazíamos, onde marcamos? paulista X consolação.

em assim foi em 2002. meia dúzia de gatos pingados, panfletinhos, e pronto, a coisa começou.

vieram outros. antes de nós tb havia outros. havia a turma da falzoni, night bikers e outros tantos mais, mas alguns enveredaram por um caminho mais comercial, de passeios mais organizadinhos, uniformes, pagamentos, e etc. já havia sampa bikers, por exemplo.

nessa mesma época surgiu o CAB, e tb entre eles racharam, sérgio prum lado, “di menor” pro outro, mas não acompanhei muito esses acontecimentos, eu tava nessa turma da bicicletada: menos roupinha de ciclista e mais antonio negri (o “império” havia sido publicado em português há pouco…).

e daí um dia a turma do pablo no ICAL – instituto de cultura e ação libertária – começou a falar duns malucos em san francisco que ocupavam a cidade inteira com  bicicletas, em agir contra a indústria do petróleo e etc, e claro, marcamos pra sair pedalando e panfletando de onde? paulista x consolação. já tinha gente de máscara. afinal, sobraram máscaras de outras manifestações anteriores. discussões prévias discutiam como reagir a bombas de gás lacrimogênio de cima da bike, como fugir da cavalaria de bike e etc… hehehe – nunca precisamos.

esse é o DNA da bicicletada: a ação direta. sim, a bicicletada é filha das manifestações anti-alca, anti fórum econômico mundial, anti-macdonalds, anti-bancos e tb anti partidos políticos. prestou atenção nesse detalhe: anti-partidos políticos.

e portanto, ela é neta do maio de 68.

pq era um grupo doido, misturando gente que pedalava com gente que vinha das manifestações anti-globalização corporativa.  aliás, já usávamos o termo bicicletada. tem no “estamos vencendo! resistência global no brasil“, do andré ryoki e pablo ortellado, uma cópia dum  panfleto de 2001 chamando pruma “bicicletada contra o G8”, que se realizou em 20 de julho daquele ano. e esse uso do termo “bicicletada” ainda existe. veja que hoje, nesse exato momento em que estou escrevendo, ocorre uma bicicletada em floripa contra o aumento da tarifa de ônibus.

tá em floripa? espero que tenha estado lá.

claro, as turmas se renovam. a cada ano, mês, semana, aparecem novos lutadores contra a carrocracia das multinacionais que está destruindo as cidades. a dada dia nascem mais resistentes. pra desespero dos órgãos de repressão. a coisa não tem líder – salvo o joaquim -, é espontânea, é festiva, é do contra, é divertida. nada mais subversivo do que se divertir numa sexta à noite na paulista sem violência e sem poluir: a alegria é revolucionária.

joaquim, líder inconteste da bicicletada, num raro flagrante pelo luciano ogura.

em 24 de fevereiro de 2006, fazendo cinco anos hoje, alguém da nova leva do cicloativismo botou uma placa linda lá no ponto de sempre: paulista X consolação. virou praça do ciclista.

o povo escolheu isso. não é esc0lha  da cabeça de algum político subsidiado por transnacional. fizemos isso, batizamos o local: praça do ciclista. tá aqui.

e depois uma vereadora aprovou um projeto de lei oficializando o nome, mas mesmo assim demorou a sair a placa oficial. o willian explica esse processo direitinho aqui.

a placa tá lá. é linda. em um dos locais mais lindos de são paulo. pode não ser fisicamente bonito o local, mas é lindo pelo seu significado, sua história, pelas pessoas de ação que passaram e passam por ali.

apareça lá amanhã. o dia é especial. vá. leve seus cartazes, sua fantasia, sua alegria, sua bicicleta. ser feliz é subversivo, lembre disso.

não tá em são paulo, tá em salvador? tb tem!

9 Respostas para “5 anos da praça do ciclista – oficializada

  1. Pode xingar? Mesmo? Putaqueupariu, caralho. Esse post ficou ótemo.
    Parabéns

  2. muito legal saber dessa história toda!
    bom pedal! abraço.

  3. Sensacional! Massa crítica à moda brasileira. Espírito de 68 revive, embora este que vos escreve tenha nascido década e meia depois… Nos vemos amanhã! Ciclo-abraçoss!!

  4. Belo post…
    Ao mesmo tempo que somos “do contra”, somos completamente a favor de muitas coisas tão simpes como otimizar o deslocamento.

    Abraços

  5. Praça d@ Ciclista, mais legal! Yaaaay!

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