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CALÇADOS PARA PEDALAR

Quem usa pedais de encaixe usa sapatilhas, quem usa pedais comuns usa o quê?

Diavolo Classic de futsal: parece uma sapatilha antiga, anterior aos tacos para pedais de encaixe.

Eu era criança e tinha uma Caloi 10 que era gigante pra mim. Só não pedalava naquela bicicleta descalço, pois o pedal tinha pontas que machucavam o pé. Na bicicleta de algum dos meus irmãos, com pedais com apoios de borracha, eu pedalava descalço também.

Mas eu morava num local quente. Pedalava na minha Caloi 10 com chinelo mesmo. Coisa de criança. Criança usa em suas bicicletas pedais comuns, e tênis de criança. E adulto? Já pedalei até usando sapato social. Estava de terno e bicicleta. Mas quais os calçados melhores pra pedalar?

Bom, antes pedalar com o que se está no pé do que não pedalar. Aí, desde que não seja um pedal de encaixe, vale tudo. É o que a gente vê nas ciclovias das cidades dos países ditos de primeiro mundo.

Mas quem já pedalou com tênis de corrida já teve aquela sensação de que o tênis absorvia bastante da força que se imprime aos pedais. E isso é fato, há desperdício de energia usando-se esse tipo de calçado pra pedalar. Sem falar que são meio trambolhudos e é difícil usar com firma-pé.

No passado, antes da invenção das sapatilhas com tacos pra pedal de encaixe, as sapatilhas dos competidores eram de couro, depois tecidos como lona, e solado quase sempre de couro grosso, praticamente sem nenhum amortecimento. E os pés era presos no pedal principalmente pelo firma-pé. Isso era a regra até mais ou menos o final da década de 1980, quando inventaram os primeiros pedais de encaixe e suas respectivas sapatilhas.

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PEDAL PLATAFORMA: a ressurgência.

Graveleiros e mountainbikers começam a recuperar o uso dos pedais plataforma, e abandonam os pedais clipless. A indústria já percebeu a tendência.

https://www.bikemag.com/gear/components/pedals/konawahwahii/Kona Wah Wah II – clique no link e leia uma uma reportagem sobre esse pedal.

Você, eu e outros que usamos pedais de encaixe já passamos alguma vez na vida por uma situação constrangedora: cair estando parado. Simplesmente por algum motivo qualquer não desclipamos a tempo, e vamos ao chão como uma jaca caindo do pé.

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Bicicleta: o anão e o basquete

Quem de fato é o maior número das pessoas que pedalam?

Esse cara é mais importante para o mercado da bicicleta do que se pensa!

Assim, imagine alguém com nanismo que queira brincar no basquete. Claro, essa pessoa nunca será um profissional da NBA. Mesmo que tenha o melhor equipamento. Mas isso não impede que se divirta com os amigos, jogando basquete. Não vai enterrar, mas pode, sem tomar toco, arremessar da linha de 3 pontos e acertar. Seu basquete nunca terá o nível profissional, mas sempre será uma diversão.

Boa parte das pessoas que pedalam são como esse anão que se diverte no basquete. Não têm o tipo físico dos ciclistas de competição. Muitas estão acima do peso. Muitas têm muito mais do que 20 ou 30 anos.

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Murilo Couto e a piada sem graça

Roupas ridículas, atropelamentos, e a dura vida do ciclista brasileiro vira piada de cunho fascista.

No passado, havia humor machista e racista. Hoje essas peças de humor mais constrangem do que são engraçadas. São conhecidas as peças de humor racista que circulavam na Alemanha na década de 1930 satirizando judeus. No limite, isso deu em Auschwitz.

O século XX foi uma época de instituições “duras”. O século XXI é de instituições “moles”. Bauman fala em modernidade sólida e líquida. Foucault e Deleuze/Guattari falam em sociedade disciplinar e sociedade do controle.

O fascismo não morreu, ele ressurge aqui e ali, com nova roupagem. Mas continua um elogio da força, um elogio do poder. Como força e poder no século XXI são situacionais, “líquidos”, o que temos são pessoas em situação de poder, e pessoas em situação de fragilidade. E isso se reproduz internamente em todas as classes sociais.

O pedestre tem seu espaço territorializado que é a calçada, onde a bicicleta só pode circular, por força de lei, por autorização da autoridade competente e com preferência para o pedestre. O resto é a rua, e em alguns locais há estrutura de ciclofaixas e ciclovias onde deve circular a bicicleta, protegida. Mas na ampla maioria do espaço viário, o ciclista divide o espaço com o motorista.

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1,70 e abaixo

A indústria parece pensar que todos temos acima de 1,75m de altura. Uma parcela considerável de homens e a grande maioria das mulheres tem menos altura e esse é um dos fatores que desestimula pedalar.

Trek Superfly 26, para pessoas entre 1,35m e 1,67m. Disponível no site americano, mas não no Brasil.

Selim com a ponta pra baixo!“, “Montar a mesa invertida pra trás!”  são às vezes a explicação que ouço ou leio de pessoas que possuem a minha altura ou menos pra conseguir pedalar suas bicicletas.

O fato é que quem tem 1,70m de altura  comumente consegue pedalar bicicletas com quadros de 54 cm de comprimento no máximo, e com mesas curtas. Poucos possuem elasticidade pra se curvarem todos pra frente sem girar a bacia pra frente, esmagando genitais e áreas correlatas nos selins.  Por isso muitos usam a ponta do selim pra baixo, o que dificultará sobremaneira o equilíbrio na bicicleta e ainda por cima a médio prazo tará lesões em punhos e mãos, além obviamente do pescoço. Continuar lendo

Ferramentas pra levar em viagem.

Você já passou perrengue na estrada e percebeu que suas ferramentas não são as adequadas?

Jogo completo da Park Tool para bicicletarias. Sonho de consumo para os curiosos, nenhuma das ferramentas dá pra levar em viagem: muito grandes.

A cena foi a seguinte: eu viajava com uma bicicleta com guidão drop e STIs. Aliás, STIs antigos, de 3×9 velocidades. Minha mão esquerda adormecia, afinal estávamos há várias horas pedalando, eu e o Rafael Buratto, amigo lá de Curitiba, sendo que fazíamos o trajeto Curitiba-Florianópolis duma tacada só. (Ao final, o trajeto que fizemos em aproximadamente 28 hora e com alforjes pesados foi de c. de 330 km).

Pra melhorar o conforto, precisei colocar o STI esquerdo um pouquinho mais virado pra dentro, como já usava do lado direito, com a mão direita zoada que tenho.

Era só afastar a borracha do STI, encaixar a chave allen e soltar um pouco. E aí, meu canivetinho de chaves alcançou? Não. Rafael emprestou o dele, um pouco maior, e pegou um pouco de lado.  E claro, estávamos cansados, com as mãos fracas. E pra fazer força, tinha alavanca? Muito pouco.

Depois, outro dia, o suporte de caramanhola deu pau, precisei trocar. Meu canivetinho alcançava o parafuso? sim, mas era um saco girar aquela coisa molenga.

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TALVEZ SEU QUADRO SEJA MUITO LONGO PRA VOCÊ.

Fit de bicicleta: tá aí um campo em que o brasileiro em geral encontra dificuldades, pois a indústria nacional parece produzir bicicletas e importar peças como se a estatura média da população fosse 1,80m e fôssemos todos japoneses.

timbiras, em foto de Curt Nimuendajú,c. 1910/1920. Observe as pernas não apenas musculosas, mas pernas longas e braços longos.

A cena é visível em todo domingo nas ciclofaixas de lazer em São Paulo: pessoas se esticando todas para conseguir segurar o guidão. Parecem todas terem comprado bicicletas muito grandes. Ninguém as assessorou na compra? É o que se pergunta num primeiro momento, para depois lembrar que na verdade não achamos bicicletas para grande parte de nós.

Nós, brasileiros em geral, não prestamos muita  atenção nas proporções do corpo. Fazemos medidas de circunferência, mas não olhamos a proporção das nossas pernas em relação ao nosso tronco. Continuar lendo

Menos pistas expressas nas Marginais, mais ciclovias.

Desabamento de viaduto na Marginal Pinheiros nos permite entender o que ocorreu na ocupação (predação) de $ão Paulo.

desenho do antigo leito do Rio Pinheiros no mapa atual.

Uma das melhores coisas que aprendemos ao pedalar pelas cidades é ler o relevo. E lendo o relevo, descobrimos os vales, onde comumente os trajetos são mais planos.

Sempre que viajo por Santa Catarina, procuro seguir os vales. Por lá, sempre acho caminhos mais planos pras minhas pedaladas. Da mesma forma, na Europa, muitos caminhos usados pelos ciclistas em suas viagens ladeiam rios.

Ciclistas não fazem diferente aqui no Brasil Procuramos os caminhos mais planos. E em São Paulo, boa parte desses vales hoje são ocupados por avenidas imensas. Continuar lendo

650c: muito cuidado.

rodas 650c fizeram muito sucesso entre triatletas nos anos 1990. hoje parecem ser um mico, a não ser que o ciclista tenha pouca estatura.

Softride Powerwing . Sem o tubo vertical, rodas 650c de 4 raios em carbono, modelo roda banido em razão das lâminas que forma quando a roda quebra num tombo.

Se você tem menos de 1,70 de altura talvez não consiga fit adequado numa bicicleta de triatlo ou contrarrelógio. Pois para acomodar uma roda grande – 700c – na frente, o quadro não apenas precisa ser mais alto, mas mais longo.

E se você vai pedalar apoiado nos cotovelos, todo dobrado pra frente, o quadro não pode ser tão longo.

Mas  a não ser que você caia nesses casos, uma bicicleta com rodas 650c pode não ser uma boa escolha para você. Explico.

Aros 650c foram também chamados de aro 26 de triatlo. A terminologia 700c, 700b, 700a, 650c, 650b, 650a é de origem europeia e refere-se a medidas externas das rodas. Mas o que nos interessa muitas vezes são as medidas internas de encaixe dos pneus.

A roda chamada de 29 polegadas tem encaixe de pneu de 622mm de diâmetro, igual à 28 das bicicletas urbanas dos europeus, e aos 700c das bicicletas de estrada mais comuns.

A roda 26 das MTBs tem encaixe de pneu de 559mm de diâmetro. As rodas chamadas de 27,5 (ou 26 1 e 1/2, ou 650b) possuem 584mm de encaixe. As rodas chamadas de 650c, tem 571mm de encaixe. Notou que elas estão no meio do caminho entre rodas 26 e 27,5? Continuar lendo

Freios Cantilever, por que ainda são fabricados?

Se você pedala há algum tempo já os viu instalados em antigas MTBs. Mas, de repente, os vê numa bicicleta com rodas com pneus largos e guidão drop. E aparecem modelos por aí bem avançados… eles não desaparecerão tão cedo.

Avid Shorty 4.

Quando apareceram os V-Brakes (que são cantilevers de puxada direta) parecia que os antigos cantilevers de cabo suspensório iriam desaparecer.

De fato, em pouco tempo eles só equipavam bicicletas baratas de supermercado, em versões de aço coberto por plástico.

Mas quando se popularizaram os freios a disco, foram os V-Brakes que foram sumindo. No entanto, os cantilevers estão por aí até hoje. Por quê? Continuar lendo