Vamos falar de roubos de bicicletas?

roubo não é furto. roubo é violento.

relato de um roubo ocorrido em são paulo, recentemente

relato de um roubo ocorrido em são paulo, recentemente

quando sua bicicleta trancada é levada embora, sem que você tenha visto, ocorreu um furto. quando lhe apontam uma arma, quando lhe derrubam da bicicleta para levá-la, ocorreu um roubo.

o roubo está tipificado no artigo 157 do código penal.  e a cabeça do ladrão que rouba está bem descrita nessa música, talvez o hino do sistema prisional.

cena naciona

cena nacionalmente conhecida

os ladrões chegam e apontam armas. ou atiram. ou derrubam o ciclista da bicicleta. na primeira imagem desse post há uma descrição de um roubo cada vez mais comum em são paulo.

há 2 dias atrás, uma amiga, trafegando com sua MTB aro 26 no largo do paissandú, no centro de são paulo, ao voltar pra casa, sofreu um roubo desse tipo. derrubaram-na com violência da bicicleta (tanto que teve uma fratura num braço), e a bicicleta apenas não se perdeu pois PMs que estavam no local conseguiram derrubar e prender o ladrão.

era o início da noite, e ela voltava do trabalho. a bicicleta com um quadro mosso dos mais simples, uma suspensão pesada e um grupo de peças simples. mas com freios a disco.

o braço quebrado de minha amiga.

o braço quebrado de minha amiga.

outra amiga, no mesmo local, já tinha sido ameaçada em outro dia, por alguém que nela colou e disse “só não levo sua bike pois tá cheio de polícia aqui”.

mas isso não é o pior. meu amigo igor, há cerca de 3 anos, foi assassinado numa tentativa de assalto, na rodovia castelo branco. os ladrões o derrubaram da bicicleta, vindo ele a cair na pista de rolamento onde um caminhão o atingiu. (esse é um luto que ainda não consegui elaborar, tanto que tenho dificuldades de voltar a fazer os brevets que eu tanto gostava e onde igor, em sua generosidade, esperava no último posto de controle para me puxar no vácuo).

qual a lógica do roubo? ela difere da lógica do furto. há o elemento do ódio do ladrão por tudo e todos. se você ouviu a música dos racionais no link que postei lá em cima, você percebeu esse ódio.

nessa reportagem da rede globo, uma forma violenta de roubo a pedestres.  note a violência. não há violência sem ódio.

e o detalhe, em são paulo, no estado inteiro, a segurança é uma lástima. nessa reportagem da folha de são paulo, uma amostra de como os números oficiais são maquiados. 

e não, ciclista, não adianta colocar um adesivo numerado, um chip qualquer: a polícia não irá atrás da bicicleta. há áreas da cidade de são paulo onde a polícia raramente entra, e quando entra não é para recuperar uma bicicleta.

de vez em quando alguma operação policial encontra 20 ou 30 bicicletas aqui ou ali, mas não passa disso. não há uma política pública de segurança no sentido da proteção do ciclista. se o governo do estado não consegue nem solucionar homicídios…

sobra a você tentar escapar. uns poucos acham, erroneamente, que vão, sozinhos, reagir. até um ou outro numa situação qualquer consegue escapar – o que já aconteceu comigo, com um crackeiro esquálido e morfético correndo atrás de mim gritando “perdeu! perdeu!”, e eu então rindo apenas pedalei mais rápido – mas o fato é que armas são apontadas ou você é violentamente derrubado.

há casos de grupos de ciclistas parados em beira de estrada e ladrões escolhendo a bicicleta  a levar.  sim, há casos de “fita dada”.  isso é mais comum quando se tem uma dessas caras bicicletas de competição, que custam algumas dezenas de milhares de reais circulando ali no grupo.

e claro, pessoas entregam seus dados constantemente: fotos em redes sociais com a bicicleta cara, trajetos em aplicativos, passeios chamados em público.

o fato é que a ladroagem presta atenção em tudo. há uns poucos anos, estávamos num bar eu e um amigo. nossas duas bicicletas paradas. a dele uma mountain-bike bem equipada, a minha um quadro trek de alumínio, de speed, de mais de 10 anos atrás, montado com guidão reto e um catadão de peças que eu tinha.

um crackeiro veio pedir dinheiro na nossa mesa e imediatamente olhou pra minha bicicleta e disse: “bicicleta de carbono!”. e eu imediatamente fui mostrar pra ele que era de alumínio. percebendo o erro, ele comentou: “ah tá, se fosse carbono eu já ia dar a fita ali na frente…”.  eu e o amigo logo zarpamos do bar, antes que nossas bicicletas virassem pedra.

afinal, quem dá a fita? qualquer um.  desculpe, mas você não sabe quem lhe cerca. você não sabe quem sai comentando que você tem uma bicicleta cara ou da marca XYZ. a fita circula, um você roda.

muita gente anda usando os quadros de alumínio sem pintura, só envernizados, para que se mostre claramente que não são quadros de fibra de carbono. mas mesmo isso não impede o roubo. pois a ladroagem presta atenção também em rodas aro 29, freios a disco, suspensões…  afinal, uma suspensão lefty não é visível à distância?

também seu capacete e sua camisa de ciclismo lhe denunciam. pois de longe somos vistos com capacetes vistosos e belas camisas de equipes profissionais… e também roupinhas verde-limão…. ciclista bem vestido costuma ter pelo menos uma bicicleta mediana, não é?

o fato é que essas bicicletas roubadas voltam a circular. elas aparecem aqui ou ali, ou são desmontadas e vendidas acolá.

um colega que trabalha numa área da cidade onde atende adolescentes em situação de risco, e par aonde vai sempre com sua caloizinha, esses tempos recebeu a visita de outros adolescentes que lhe ofereceram bicicletas melhores por 300 ou 400 reais. ele declinou da oferta, mas com jeito descobriu como as bicicletas aparecem lá: “a gente toma dos playbas da sumaré!”, disse um rapaz. “a gente vê playba de longe…”.

e claro, os rapazes não sabiam dizer qual o tamanho das bicicletas.

si, se for comprar uma bicicleta usada, observe que informações o vendedor dá. o bom vendedor diz o tamanho do quadro, a lista de peças e etc. o mau-vendedor, receptador ou até o próprio ladrão, não tem essas informações. nem quer perder tempo fornecendo-as.

o fato é que, ao menos no estado de são paulo, os ciclistas estão às  moscas. não apenas na capital, mas também na baixada ou no interior do estado.

furto, a gente previne com boas – e caras – u-locks. mas roubos? o negócio é não chamar a atenção e evitar os locais onde eles são mais frequentes.  pois, lembremos, no caso de furto perdemos apenas a bicicleta, mas num roubo, até a vida pode ser perdida.

é fato, é dura a vida do cidadão do estado de são paulo.

 

 

 

2 Respostas para “Vamos falar de roubos de bicicletas?

  1. Mesmo sendo uma lástima , SP ainda é uma ilha no Brasil. Segundo o Mapa da Violência é o estado mais seguro do Brasil para uma mulher.

    Fonte: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf

    Antes de qualquer mimimi sobre números maquiados, o Mapa da Violência foi elaborado com dados do IBGE (federal) e PNS (federal), dentre outras fontes

    Entre adolescentes, a taxa de homicídios em SP é de 1/3 da taxa do RJ e metade da de MG. Ainda segundo o Mapa da Violência

    Se em SP está assim, imagine como deve ser para uma mulher pedalar pelo Brasil. Se a intenção é atacar a coxinhada branco-fascista homofóbica-carrocista -atropelista-machista-cristã-fundamentalista, que ocupa o Palácio dos Bandeirantes, sugiro faze-lo em outras frentes….

  2. insegurança é no Brasil inteiro…. roubo de surpresa não tem escapatória. Mas se vc perceber alguém estranho/suspeito é impossível de se defender, antecipar e garantir sua integridade e seus bens. Pois segundo a lógica dos utlimos governos ter uma arma é um risco para toda a sociedade, inclusive uma grande risco para os bandidos, mesmo que vc seja uma pessoa honesta, consciente, responsável por todos seus atos e com bom caráter…

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